“Vimos uma mão entre o entulho e paramos logo os trabalhos”
Algo do género já tinha acontecido na Ribeira Brava?
Há 20 anos que no concelho não aconteciam rebentamento de poços. Naquela zona, no Campanário, há poços quase de 10 em 10 metros. Aqueles poços em específico tinham à volta de 50 anos e não era habitual estarem cheios.
Como é que tudo aconteceu?
O que aconteceu foi que choveu muito, os poços ficaram com demasiada água e aquela pedra antiga não resistiu. Quando um rebentou o outro rebentou também porque, segundo me disseram, os poços estavam ligados. Tinham um furo que permitia a passagem da água de um lado para outro.
De que forma é que a senhora foi apanhada pelo rebentamento dos poços?
Ela ia a passar lá para limpar um ribeiro por causa das chuvas. No exato momento em que ela passava tudo aconteceu. Não houve nenhuma testemunha do que aconteceu exatamente. Uma vizinha diz que viu-a sair de casa poucos momentos antes do rebentamento…
Os poços pertenciam à senhora falecida?
Segundo me disseram, os poços em causa estavam muito perto da casa da senhora mas não seriam seus.
DE INÍCIO, «NADA FAZIA PREVER A GRAVIDADE»
A que horas se iniciaram as buscas?
Curiosamente, quando recebemos a chamada do que tinha acontecido nada fazia prever a gravidade da situação. Ligaram-nos da Câmara Municipal da Ribeira Brava a informar que tinham rebentado dois poços. Apenas isso. Só algum tempo depois é que deram por falta da senhora. Nós, bombeiros, fomos os primeiros a chegar à zona, por volta das 9 horas. Fizemos umas buscas rápidas de manhã e nessa altura fiquei com a sensação de que seria muito difícil o corpo ter chegado ao mar tendo em conta o terreno em causa. Seria difícil, mas não impossível.
Como é que as buscas foram desenvolvidas?
De início foram vistos os poios atrás das casas e depois foi feita a limpeza da estrada. Seguiram-se os cães da PSP que estiveram no terreno à procura durante uma hora e meia. Foram definidos vários pontos de busca. Pouco depois de a escavadora ter começado os trabalhos de remoção de entulho na ribeira vimos uma mão e paramos logo os trabalhos. A senhora foi encontrada, pelas 17.45, cerca de 100 metros abaixo da zona do rebentamento. A partir daí foi tudo mais feito lentamente. Foram os Bombeiros Voluntários da Ribeira Brava que acabaram por detetar o corpo e fizeram depois a remoção do mesmo.
Esta foi uma mega-operação que envolveu diversas entidades. Quantos elementos no total estiveram envolvidos?
Seguramente mais de 30 pessoas, contado connosco, com a PSP, Polícia Marítima, Proteção Civil, Cãmara da Ribeira Brava, SANAS e ainda com a Força Aérea, através de um helicópetro. Nós, Bombeiros Voluntários da Ribeira Brava, estivemos presentes com oito elementos – e ainda mais um que estava de folga e se juntou a nós – e três viaturas. O nosso trabalho foi coordenado pelo nosso Comandante Agostinho Silva e contou também com o meu apoio. No geral, este foi um esforço de várias equipas que estiveram a lutar pelo mesmo fim. Três pontos de busca abaixo daquele onde a senhora foi encontrada tudo seria mais difícil. Aí, as possibilidades seriam muito remotas para encontrá-la…
CATEQUISTA E MUITO ATIVA
A senhora que faleceu, a Sra Emília, era uma pessoa muito querida no Campanário…
Sem dúvida. Era uma pessoa dinâmica e ativa, apesar de já ter 70 anos. Vivia sozinha com a irmã, que está acamada. Era também catequista e uma pessoa muito religiosa. Muita gente gostava dela.