Um dia depois da oitava subida à Primeira Liga da carreira, qual é o sentimento?
É o sentimento de dever cumprido e de gratidão pelo desempenho dos jogadores e de toda a estrutura do clube que sofreu, viveu e sentiu as alegrias e as tristezas que todos sentimos. O objetivo de início de época era colocar a equipa num dos cinco primeiros lugares, organizar a equipa de forma a que no ano seguinte a subida fosse “atacada”, mas felizmente para todos conseguimos essa meta com um ano de antecedência. Quero agradecer aos meus adjuntos que foram fantásticos a a todo o “staff” desde o pessoal da rouparia, do posto médico e da relva…Todos foram importantes.
No final da primeira volta, e depois de a equipa ter perdido muitos pontos em casa, chegaram a duvidar de que poderiam subir de divisão?
Na segunda volta fizemos mais 12 ou 13 pontos do que na primeira volta. Marcamos mais golo e sofremos menos. A primeira volta foi aquém das nossas expetativas, mas tínhamos uma equipa completamente nova. Entraram 22 ou 23 jogadores novos, o treinador era novo, os processos eram novos e tudo isso demora o seu tempo. a assimilar. Felizmente conseguimos não ficar a uma distância tão grande que não desse para recuperar, o que aconteceu. Fizemos uma parte final de época excelente e no último terço do campeonato fomos, provavelmente, a melhor equipa e conseguimos os nosso objetivos. Os jogadores acreditaram sempre que era possível, apesar da desvantagem que chegamos a ter de 9 ou 10 pontos dos lugares cimeiros. Acreditamos sempre que era possível e os jogadores eram fantásticos.
Que “malapata” era aquela nos jogos em casa?
Não era “malapata!” A equipa tinha algumas dificuldades em jogar contra equipas fechadas. Os adversários jogavam com um bloco baixo e saídas rápidas e criaram-nos alguns problemas. Nós nunca tivemos arte nem engenho para desbloquear essas defesas sólidas. Melhoramos na segunda volta porque os mecanismos melhoraram, fizemos alguns ajustamentos e alteramos algumas coisas nos nossos processos ofensivos.
Esta foi mesmo a subida mais difícil da sua carreira?
Esta foi a mais difícil porque foi aquela em que reuníamos menos condições e tínhamos mais fortes opositores aos dois lugares cimeiros: o Tondela, o Chaves, o Covilhã e o Freamunde, que foram dois “outsiders” que fizeram campeonatos absolutamente brilhantes. Tínhamos ainda o Portimonense, que tinha um excelente plantel, o Beira-Mar e o Olhanense. Conseguimos chegar lá em cima mas foi extremamente difícil, em cima da meta.
Como foram aqueles instantes finais do jogo com o Oriental em que a grande preocupação era saber o que se estava a passar no Tondela-Freamunde?
Atendendo ao resultado, a nossa preocupação estava completamente virada para o jogo do Tondela, principalmente nos últimos 10 minutos. Foi dramático, mas sabíamos, por experiência própria, que se pode ganhar ou perder no primeiro ou no último minuto. Acreditávamos que era possível ao Tondela virar o jogo, mas o tempo jogava contra e felizmente acabou por marcar e repor alguma justiça porque entendo que quem chega ao fim de 46 jornadas na segunda posição não pode falar em sorte mas sim em merecimento e em qualidade porque são muitos jogos.
Como vê o facto de a Madeira ter neste momento ao mais alto nível tendo em conta também a dimensão da ilha?
Tal como o presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo, disse ontem, neste momento o Funchal é, a par de Lisboa, a capital do futebol português. Três equipas na Primeira Liga é bom para a Madeira e para o futebol português. Vai aumentar a rivalidade entre os clubes madeirenses e vai proporcionar que as equipas do continente venham, uma vez mais, à Madeira. Para o povo madeirense é importante ver os grandes clubes nacionais passar por aqui, pelo menos três vezes.
Que futuro prevê para o União?
O União tem umas infra-estruturas muito interessantes, e temos de dar os parabéns ao presidente Filipe Silva pela criação das mesmas, mas o clube precisa de melhorar em muitos aspetos: precisa de ser mais competitivo, mais profissional, mais rigoroso e, fundamentalmente, mais exigente com toda a gente. Para além disso, a apesar de atualmente ter bons jogadores dos quais pode fazer um bom reaproveitamento, precisa de um bom plantel porque o pior que pode acontecer ao clube é subir e descer de divisão. Mas acredito que o clube tem todas as condições para se consolidar na Primeira Liga.
A RAZÃO DO ANÚNCIO DA SAÍDA UMA SEMANA ANTES DO FIM DA ÉPOCA
A decisão de ter comunicado a saída do União uma semana antes da última, e decisiva, jornada, deveu-se a quê?
A semana que antecedeu o jogo com o Oriental foi absolutamente tranquila, mas nas semanas anteriores já se falava em treinadores para o União da Madeira e que o Vítor Oliveira ia para aqui e para ali. Começou a se especular então e seria previsível que esta semana fosse ainda pior a esse respeito se não tivéssemos posto um travão à situação. A notícia, da forma surpreendente como apareceu, acabou com todas essas informações mentirosas e negativas. A informação já tinha sido comunicada internamente foi tornada público para impedir que houvesse boatos que pudessem prejudicar.
Vai guardar boas recordações da Madeira?
Sim, vou. No início tive algumas dificuldades de adaptação mas depois adaptei-me e deixei aqui alguns bons amigos para a vida. Vive-se bem cá, há qualidade de vida. O União tem potencial e um clube ao qual estamos ligados pela subida de divisão vai ficar sempre no coração.
As oito subidas no currículo dão-lhe um estatuto único em Portugal. Já tem muitos convites para prosseguir a carreira?
O único convite que tive foi do União, que declinei, e neste momento não tenho nenhum convite, mas isto acontece-me muitas vezes. O sair sem convites em carteira, mas vou aguardar. Primeira ou Segunda Liga é indiferente.
«TENHO UM PERCURSO QUE ME POSSO ORGULHAR!»
Mas agrada-lhe esse papel de “alavancar” equipas para outro patamar e depois partir para outro projeto?
Não me agrada nem me desagrada. Já subi equipas e fiquei e já subi equipas e saí. Faço sempre uma análise muito objetiva da situação e depois decido. Essa gestão é feita apenas por mim e tenho me dado bem. Tenho um percurso que me posso orgulhar e que é um percurso bonito no futebol português.
Há um segredo para o sucesso?
Não há segredo especial. É preciso trabalhar, acreditar e fundamentalmente é preciso ter bons jogadores. Essa é a chave do sucesso.