As joeiras voltam a colorir os céus do Ilhéu, em Câmara de Lobos, no próximo dia 23 de Maio. No tempo de São Freitas, estes brinquedos de papel eram lançados em Junho. Construídos a preceito com papel de seda e cola de semilha.
Na meninice de São Freitas, não havia concurso de joeiras. Os papagaios feitos com papel de seda eram pura diversão e, para muitas crianças, um dos poucos brinquedos que podiam ter, num tempo de muitas dificuldades económicas.
Nascida em São Pedro, a funchalense acha piada aos concursos que hoje se fazem pela ilha. Uma forma de manter vida a tradição, aplaude.
A a 23 de maio próximo, a Escola Básica do 2.º e 3.º Ciclos da Torre promove o ‘V Concurso de Lançamento de Joeiras’ intitulado ´’Joeiras no Ilhéu, a decorrer no Jardim do Ilhéu, em Câmara de Lobos, pelas 10 horas. São Freitas considera que esta é uma excelente iniciativa, embora no seu tempo as joeiras fossem lançadas em Junho.
“Era uma brincadeira de rapazes, lembro-me de ajudar o meu irmão a construir as joeiras. Havia umas grandes, chamadas as estrelas. Nesse tempo, o papel de seda custava um escudo, se não estou em erro“, conta a secretária.
A disputa pela joeira mais bonita era grande entre a criançada e isso dependia da capacidade de cada um para comprar maior diversidade de papel de seda. A cola era improvisada: usava-se milho ou semilha cozida. “Muitas vezes, colhíamos resina das árvores, deitávamos água morna e lá fazíamos a nossa cola”, lembra São Freitas.
Para além do papel e do barbante, as canas cortadas em tamanho certo serviam de estrutura para as joeiras, das mais simples, quadradas, às mais complexas, em estrela ou losango. “Também tínhamos os papagaios feitos em pano. Era um entretenimento, passar horas a fazer joeiras”, afirma São Freitas.
Depois de construídas as joeiras, o desafio era, lembra a funchalense, lança-las e esperar pelo vento a favor. A secretária não esquece os momentos de diversão com os vizinhos e irmãos, a correria desenfreada atrás das joeiras que coloriam os céus de junho. Hoje, sempre que um papagaio de papel atravessa livremente o ceu, São sorri e recorda, com ternura, esses tempos.