Os guarda-redes
João Luís Lomelino / Ex-diretor para o futebol do Marítimo
O posto de guarda-redes é considerado desde sempre, um ponto sensível na formação de uma equipa. Dizem aliás, que a maioria dos guarda-redes têm um pouco de loucura, devido à coragem que é necessária para assumir tal posição e ainda porque normalmente os guarda-redes têm um perfil especial desde o seu fardamento até aos “amuletos” que, por vezes transportam para a respetiva baliza.
Desde que comecei a assistir aos jogos de futebol fui acompanhando as carreiras de diversos guarda-redes, principalmente do Marítimo. O primeiro que tive oportunidade de ver foi o célebre Gorrin, já na sua fase descendente, era um guarda-redes imponente pela sua estatura e com uma grande agilidade, era canariano e tornou-se uma lenda nos anos cinquenta.
Seguidamente, fui acompanhando guarda-redes caseiros (Dias e Herculano) até que depois chegou à Madeira outro canariano chamado Grisalena que foi um excelente atleta, não obstante a sua pequena estatura. Prestou ótimos serviços ao clube e ainda há pouco tempo foi homenageado pela Direção do Marítimo. Tive o privilégio, enquanto júnior, de treinar com Grisalena, hoje em dia um empresário de sucesso em Canárias.
Com a entrada nos Nacionais, o Marítimo recorreu ao concurso de vários guarda-redes continentais: Neto, Amaral, Quim, Ferro, Bizarro, Valente e Nelson. Quero realçar neste naipe, o Amaral, de grande estatura, foi internacional e ficou sempre conhecido pelo guarda-redes da subida para a primeira divisão e também o Quim que, tão bons serviços prestou ao clube, que apesar de não ser alto, tinha umas mãos de ferro e uma grande agilidade, continuando hoje a trabalhar no clube como treinador dos mais jovens, partilhando com os mesmos os conhecimentos e a experiência que adquiriu na sua vida de guarda-redes.
Na fase seguinte, passámos ao ciclo dos brasileiros: Ewerton. Gilmar, Peçanha, Marcos e Marcelo Boeck, nos quais impõe-se salientar Ewerton talvez, um dos melhores guarda- redes que passou pelo Marítimo: Todos nós recordamo-nos das suas exibições na meia-final e na final da Taça de Portugal, contra o Porto e Sporting , acabou a sua carreira como treinador de guarda-redes . Marcos também foi um bom guarda-redes, oscilava quando as notícias anunciavam que iria ser transferido para o Benfica. Tivemos também um guarda-redes que deixou boas recordações, o Van der Straten, belga e de forte compleição física.
Atualmente o Marítimo encontra-se muito bem dotado nesta área com o francês Salin que tem excelentes recursos. Hoje em dia para ser guarda redes é preciso muito mais que defender bem, nós assistimos todas as semanas às exibições dos melhores guarda redes do mundo ,Neuer P.Cech , Buffon, Courtois e De Gea, com grandes estaturas, todos no limiar do 1.90m para poderem acorrer às jogadas mais correntes, como cruzamentos, cantos e livres diretos e principalmente saberem jogar com os pés, pormenor que antigamente era descurado. Nos nossos dias, um guarda-redes também é um líbero que está muito em jogo e que lança vários contra ataques quer com as mãos quer com os pés.
Termino registando uma interessante curiosidade, o Marítimo em 1935/36 teve um guarda-redes que dava pelo nome de Virgílio Teixeira, o grande ator madeirense com muito sucesso ao nível nacional.