Os problemas da canoagem na Madeira

Os problemas da canoagem na Madeira

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David Fernandes - Canoísta do Clube Naval do Funchal

Cabe-me a mim falar um pouco do desporto no qual sou viciado. A canoagem, como grande parte dos desportos náuticos, está a passar por uma fase complicada. Quando parecia que o número de praticantes iria aumentar, impulsionada pelos grandes resultados dos canoístas madeirenses quer a nível nacional quer internacional, a modalidade acabou por estagnar e o futuro não é risonho. Isto porque alguns clubes acabam por extinguir a modalidade, outros optam por não federar grande parte dos atletas e os que têm um numero considerável de canoístas acabam por vê-los desistir. É compreensível pois os apoios são poucos ou quase nenhuns, as verbas para as participações nacionais são cada vez menores e os nossos acessos ao mar e instalações náuticas estão a regredir.

No que toca a participações nacionais, tornou-se muito difícil conseguir levar grande parte dos atletas porque o orçamento é apertado e o formato de apuramento requer um grande número de federados, o que leva, por exemplo, a podermos ter um atleta de nível mundial impossibilitado de ir aos nacionais, por haver poucos federados na canoagem, quando em outras modalidades o índice de apuramento não é a quantidade mas sim a qualidade. Era importante rever este aspeto, porque na verdade é um fator desmotivador para os atletas, que acabam por procurar outras modalidades em que possam ter sucesso numa carreira desportiva. Mas é a nossa política desportiva!

Triste é a nossa situação em S. Lázaro. Houve clubes que ficaram a ganhar com as novas instalações náuticas, mas os grandes clubes ficaram a perder pois viram grande do seu espaço reduzido. Para um clube que tem diversas modalidades é complicado ficar reduzido a 1/3 das instalações anteriores. Como se não bastasse as dificuldades dos clubes com o espaço, a rampa de acesso ao mar está a precisar de manutenção. Há quem diga que deveria ser os clubes? Mas é usada pelos clubes, por atletas, pescadores, amantes de atividades náuticas, ou seja, por um número infindável de utilizadores que esperam que seja uma alma caridosa a limpar.

No entanto, as duas rampas (a antiga e a que foi construída devido às obras da ribeira) já estão com uma cor verde e vão continuar a estar. Para culminar temos a rampa de acesso ao varadouro do Funchal com uma estátua em frente ao portão. Não havia outro sítio para colocá-la? Pelos vistos não… E agora com tanta versão do novo local onde vai ficar situado o novo museu, não me admirava nada que as atividades náuticas fossem novamente prejudicadas. Atenção: não sou contra a estátua nem contra o museu de um super atleta – o melhor do Mundo no futebol e que merece tal reconhecimento ficando a Região a beneficiar com isso – mas só gostaria que ninguém ficasse prejudicado, porque, vendo bem, o Funchal ainda é grande e existe muitos espaços para colocar estátuas e museus.

Mas para quê batalhar mais? Há quem diga que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, mas eu não acredito nisso. Na verdade, passados 22 anos que ando por S. Lazaro, no que nós designamos por “calhau”, já se tornou habitual ver desportos com piores resultados do que a canoagem e até em relação aos restantes desportos náuticos, a terem melhores condições e maior visibilidade. E esta falta de visibilidade que nós temos não é por falta de informação da associação e dos associados, pois esses fazem por chegar aos meios de comunicação social e outras entidades as atividades que são realizadas dentro e fora da região. A responsabilidade acaba mesmo por ser a nossa cultura desportiva. Não acham?

Ainda recentemente esqueceram-se que fui medalhado no Mundial de 2014, uma simples medalha de prata numa especialidade que é Olímpica. Um feito que até podem achar banal, mas que na Região Autónoma da Madeira só dois desportistas o conseguiram, curiosamente em duas modalidades náuticas. Esse prémio foi esquecido pela comunicação social nas suas habituais crónicas de final do ano, onde evidenciam os grandes êxitos dos madeirenses. Mas anteriormente já tinha sido esquecido, como tantos outros resultados que alcancei, pelo Governo Regional. Mérito desportivo? Nenhum! Muita gente acha que é apenas um reconhecimento do trabalho, mas para os atletas amadores como eu é um trampolim para apoios desportivos, patrocínios e é um fator motivador, claro. Sem visibilidade, as empresas não se interessam pelos atletas e pela modalidade. E ao fim ao cabo isto é um ciclo, que se for corretamente compreendido todos acabam por ganhar.

Por mais triste que seja, é assim que vai a canoagem na Madeira.

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