Normalização
Luís Filipe Malheiro / Jornalista
Terminadas as eleições regionais, terminada a novela que alguns tentaram montar à volta de um assunto que interessava à CDU e ao PSD e ultrapassado o processo de reclassificação dos votos nulos assim considerados pelas assembleias de voto, estão criadas condições para que a normalidade regresse normal e rapidamente.
A Assembleia Legislativa deverá ser empossada a 20 de Abril de manhã, elegendo a nova mesa e na tarde desse mesmo dia terá lugar provavelmente no salão nobre a posse do novo governo regional liderado por Miguel Albuquerque. Fecha-se assim o ciclo eleitoral regional. Abre-se um novo ciclo, de governação e de atividade parlamentar, quiçá um dos mais importantes para o nosso futuro coletivo.
O problema é que no rescaldo das eleições – mesmo que alguns tentem, porque preocupados, não se percebe bem porquê – ficam algumas realidades que não podem ser esquecidas e que é preciso resolver rapidamente:
- a) atualização urgente do recenseamento eleitoral completamente distorcido da realidade, com freguesias e concelhos a apresentarem mais eleitores que população residente;
- b) inversão da tendência de crescimento da abstenção eleitoral que em eleições regionais ultrapassou pela primeira vez os 50%, o que teve como consequência imediata que o PSD tivesse obtido este ano o seu pior resultado de sempre em termos de votação absoluta. Mas não está sozinho: o PS nem com a coligação inventada à pressa resolveu esse problema e a votação alcançada em 2015 foi muito pior do que todas as anteriores votações do PS quando concorreu isoladamente!
Pessoalmente não acredito que se resolva a questão do recenseamento eleitoral, desleixado e trapalhão, porque as entidades com essa competência, concretamente o MAI em Lisboa, têm uma grande relutância em aceitarem que a realidade constante dos cadernos eleitorais não tem nada a ver com a verdade e com o país eleitoral que somos.
Ora, isso implica que a abstenção, apesar de tudo, continue a cavalgar para valores preocupantes, que nem a manipulação de alguns – sem bases concretas nem fundamentos para o fazerem – consegue inverter. Não podemos partidarizar a análise do fenómeno da abstenção eleitoral usando-a para minimizar as vitórias de uns, só porque isso nos convém, e não fazer o mesmo noutras circunstâncias para tentar encontrar justificações para factos pouco estimulantes. A abstenção eleitoral é o que é e os resultados oficiais são os que são publicados. Não os que achamos que deviam ser.
Por isso meditemos muito seriamente nisto:
1976 – 107.265 votantes, 38.138 abstenções
1980 – 124.062 e 29.377
1984 – 121.024 e 48.395
1988 – 125.383 e 59.957
1992 – 130.799 e 65.790
1996 – 136.678 e 72.623
2000 – 129.703 e 80.914
2004 – 137.693 e 90.425
2007 – 140.721 e 91.781
2011 – 147.344 e 109.139
2015 – 127.893 votantes (menos 19.451 que em 2011) e 129.339 abstenções (mais 20.200 que nas regionais anteriores.
Finalmente, também para reflexão, deixo a evolução das votações absolutas do PSD e do PS, recomendando que as comparem com o registo da tabela anterior:
1976 – PSD com 63.963 votos e PS com 23.968 votos
1980 – 81.051 e 18.606 votos
1984 – 81.872 e 18.553 votos
1988 – 78.185 e 21.058 votos
1992 – 74.369 e 29.443 votos
1996 – 77.365 e 33.790 votos
2000 – 72.588 e 27.290 votos
2004 – 73.973 e 37.751 votos
2007 – 90.339 e 21.699 votos
2011 – 71.556 e 16.945 votos
2015 – PSD com 56.690 votos e PS ccom 14.593 votos (coligado com PTP, MPT e PAN)