Madeira – Procura e Oferta de Desporto na Natureza
Francisco Fernandes / Ex-secretário da Educação e Cultura
O Desporto na natureza é um atrativo para milhões de europeus. A procura de espaços na natureza vai dos parques ao ar livre, sem as caraterísticas dos espaços desportivos, até aos percursos nas montanhas e às atividades no mar, independentemente de regulamentação e fiscalização, de controlo das cargas ou dos requisitos desportivos de material, equipamento e sinalização.
Assim, o estudo da Procura e Oferta de Desporto na Natureza na Madeira determina a necessidade de apurar os fluxos, os perfis e as ofertas disponíveis para os Turistas que demandam as ilhas da Madeira e do Porto Santo.
O Eurobarometer (2010) revela que a maioria dos europeus estão interessados em ser fisicamente ativos (54%), embora percentagem significativa (42%) afirme preferir outras ocupações para o seu tempo livre.
O Estudo do Gasto Turístico na Madeira (ECAM, 2010) ao inquirir os visitantes quanto às atividades praticadas durante as férias na Madeira apurou que 41% destes efetuam passeios nas ‘levadas’, estando também entre as suas preferências, os passeios de barco e os eventos desportivos.
A Madeira é procurada anualmente por um milhão e cem mil visitantes, dos quais mais de metade é originária de países europeus, com particular incidência para o Reino Unido e da Alemanha, conforme se apurou em estudo recente sobre as Ligações Aéreas com a Madeira (Fernandes, M., 2013).
A presente análise procura cruzar as informações destes três estudos, e aproveita a inventariação da oferta de desportos na natureza na Madeira e no Porto Santo, trabalho desenvolvido por Catanho José (2013) no âmbito da Associação Zarco – Centro de Estudos e Desenvolvimento do Desporto.
A Carta Europeia do Desporto, assume a prática desportiva como um factor de desenvolvimento humano, e os governos europeus propõem-se dar a cada indivíduo a possibilidade de a praticar, apontando como metas, assegurar a todos os jovens a possibilidade de beneficiar de programas de educação física para desenvolver as suas aptidões desportivas de base, bem como a possibilidade de praticar desporto e participar em atividades físicas recreativas em ambiente seguro e saudável.
Os fluxos turísticos para a Madeira são essencialmente provenientes do território nacional, do Reino Unido e da Alemanha, embora se deva ter em conta que, pelo território nacional (aeroportos de Lisboa e Porto), transitam passageiros (cerca de 40%) oriundos dos principais mercados de origem internacional, e que não conseguem obter ligações diretas com a Madeira (Fernandes, M., 2013). As tendências quanto às origens mantêm-se invariáveis ao longo dos anos.
Importa analisar a natureza das motivações que conduzem os turistas à Madeira (Estudo do Gasto Turístico, 2013). O motivo principal da viagem à Madeira é pessoal/férias, verificando-se que 85% dos visitantes o fizeram por este motivo. Para estes a principal motivação foi o contacto com a natureza (34%) e o Sol & Mar (21%).
Os visitantes da Madeira são na sua maioria ativos numa proporção de 2 ativos por cada visitante não ativo; em função do mercado emissor detetam-se no entanto algumas diferenças: Os Portugueses são maioritariamente ativos (80%) e os Ingleses são tanto ativos como não-ativos (50%), e apresentam uma distribuição etária que evidencia um perfil de turista sénior, especialmente no segmento lazer/férias, para o qual se observam maiores idades. (idem). As atividades mais referidas são: experimentar a gastronomia, passear pela ilha e nas ‘levadas’, representando estas 26% das preferências (ECAM. 2010).
Analisando os resultados do Eurobarometer (2010), temos que: 40% dos cidadãos da UE fazem desporto pelo menos uma vez por semana; 65% pratica uma forma de atividade física pelo menos uma vez por semana; os homens fazem mais desporto do que as mulheres particularmente entre 15-24 anos; 22% dos entrevistados na faixa etária de 70 ou mais ainda são praticantes desportivos; os habitantes dos países nórdicos e dos Países Baixos são mais praticantes desportivos; dois terços dos inquiridos não são membros de qualquer clube ou centro desportivo; os praticantes fazem-no principalmente para melhorar a sua saúde; outras razões, como estar em melhor forma, relaxar ou divertir-se, são igualmente populares; a falta de tempo é, de longe, o motivo mais citado para a ausência de atividades desportivas; 3/4 concordam que há, no local onde vivem, oportunidades para a prática de atividade física; e 7% contribuem para projetos de desporto, como voluntários.
Na sequência do levantamento que está a ser desenvolvido pela Associação Zarco sobre as modalidades que são praticadas na Região em contacto com a natureza e, após uma primeira leitura dos questionários recebidos, apresentam-se alguns dados sobre os locais de prática das diferentes atividades, bem como do seu potencial interesse turístico para a Região. Foram convidadas entidades individuais representativas das diversas modalidades de Desporto na Natureza, designadamente: Mergulho; Snorkeling; Windsurf, Surf, Vela, Canoagem, Parapente, Orientação, Trail, Canyoning, BTT, Montanha, Escala (Resgate), e Caminhadas.
Dados apurados:
Surf – (Pontos Fortes): Qualidade e frequência das ondulações, clima e temperatura da água, boas infraestruturas, apoio à modalidade, beleza natural da ilha, inexistência fauna/flora perigosa; (Pontos Fracos): Falta de locais de prática para Iniciados, falta de visão turística da modalidade; falta de apoio de entidades desportivas e turísticas; falta de infraestruturas de apoio.
Canoagem – 38 ‘Instalações’, sendo 30 de qualidade Boa, 5 de qualidade Média e 3 consideradas Inadequadas. É praticada em todos os concelhos da R.A.M.
Parapente – A modalidade pode ser praticada ao longo de toda a costa sul e norte da ilha da Madeira, tirando a área da CTR do aeroporto da Madeira. Segundo a entidade consultada, a melhor forma de promover a Região no mundo seria divulgar um voo sobre a cidade do Funchal a sul, e um voo sobre a floresta Laurissilva a norte.
Atividades subaquáticas, mergulho com garrafa, fotografia subaquática, mergulho em apneia e caça submarina – Os espaços que eventualmente podem ter uma boa capacidade de atrair mais procura são o Porto Moniz, Ponta de São Lourenço (N) e Ponta do Pargo, para a caça-submarina e mergulho em apneia, e a Reserva Natural e Parcial do Garajau e Desertas para o mergulho com garrafa e fotografia subaquática.
BTT – Dispomos dos melhores locais para a prática com potencialidade de promover a modalidade a nível nacional/internacional. O BTT é um desporto muito dinâmico com várias modalidades e tipos de praticantes. Um dos produtos com maior potencial na Madeira são os chamados “Sky to Sea”, que se enquadram dentro do enduro que é, atualmente, a grande tendência mundial. Existem neste momento uma meia dúzia de percursos onde é possível começar no topo das montanhas e acabar junto ao mar.
Levadas – As mais procuradas pelos Turistas são as Levadas das 25 Fontes, Caldeirão Verde, Vereda Pico do Areeiro/Pico Ruivo. É o principal produto turístico da Região, não sendo possível determinar com rigor quantas pessoas percorrem as Levadas da Madeira. O valor das Levadas é inquestionável. Existem cerca de 200 Levadas, representando cerca de 2.150 km. A Região foi considerada por uma revista da especialidade como o 4º Melhor destino mundial para Percursos Pedestres do Mundo.
Traiil Running – Atendendo à orografia que nos caracteriza, a Região apresenta, em geral, excelentes condições para a prática da modalidade, principalmente acima da cota 400. Esta é uma modalidade que privilegia os espaços naturais; áreas verdes e floresta Laurissilva.
Referências bibliográficas:
ECAM (2010), Estudo do Gasto Turístico. Madeira: SRCTT.
Fernandes, M. (2013). Ligações Aéreas com a Madeira, tese de Mestrado, UMa/CCCS-DGE
Fernandes, F. (2013), Tráfego Aeroportuário nas RUP. Madeira: ANAM, sa.
Fernandes, F. (2013), Análise do Tráfego Aeroportuário com origem/destino no R.U. e Alemanha. Madeira: ANAM,sa.
Special EUROBAROMETER, Sport and Physical Activity, 2010, European Commission.
Associação Zarco, Centro de Estudos e Desenvolvimento do Desporto, Inventariação da oferta de desportos na natureza na Madeira e no Porto Santo, Catanho José, 2013.