Espelho meu, espelho meu…

Espelho meu, espelho meu…

.
0

Carina Ferro / Gestora de Projetos Comunitários

Tenho ouvido muito falar sobre “dignificar” aquilo que se faz na Assembleia Legislativa Regional. Sim, episódios existiram que mancharam o trabalho que lá se tentava fazer. Mas não tomemos a parte pelo todo. É o mesmo que assumir que todos os políticos são maus, incapazes, ladrões ou corruptos só porque se provou que alguns, sim, o eram. É ainda pior, é como assumir que todos os médicos são maus por termos sido mal atendidos nas urgências do ainda para ser ex-hospital público.

Em tempos idos de Jardim, nem tudo eram rosas. Mas a ALRAM era digna. A falta de dignidade foi protagonizada por criaturas que, felizmente, estão bem identificadas pelo povo madeirense. E a esses falta-lhes dignidade, sem dúvida.

Os madeirenses sabem bem quem os desonrou depois de lá estarem. Aqueles que pouco ou nada fizeram pela Madeira, estavam lá, tiveram a oportunidade, e não a agarraram. Resultado? Melhor democracia. Às vezes menos é mais. Este é um desses casos.

Novos protagonistas surgiram, é uma nova era. Abril teve outro significado para muitos e, para os demais, não significa nada. É a liberdade, senhor, é a liberdade! E o povo sempre teve essa liberdade, o povo sempre decidiu. Quem não quis fazer parte da escolha não pode queixar-se por não estar satisfeito com o que recebe, sempre me disseram. Também é certo que quem nos trouxe até aqui já lá não está (salvo raras excepções igualmente bem identificadas pelos madeirenses), e o desnorte discursivo de quem se habituou a apontar desmesuradamente o dedo, tem agora um espelho à sua frente. Que desafio, senhor, que desafio!

Não serão todos, certamente, capazes de colocar a mão na consciência e, mais importante ainda, de colocar mãos ao trabalho, mas fui ensinada a dar o benefício da dúvida e podem contar com, pelo menos, isso. Comecem, mas comecem a sério. Não comecem com discursos frágeis de dignificar algo que só não foi digno porque a democracia assim o permitiu. É complicada, a democracia. Tão complicada quanto necessária.

E, hoje, a democracia parlamentar praticamente chegada em braços de abril fragilizou não o legado de Jardim, mas o legado de todos aqueles que estão na oposição. É preciso cuidado. Às vezes, nem tudo o que reluz é ouro. Mas se calhar, só se calhar, os novos tempos podem trazer algo de bom, seja de quem governa, seja de quem está na oposição. Que se respire democracia, que se sinta abril, que se deixe entrar o sol.