Do (novo) PS à coligação (hipotética)  

Do (novo) PS à coligação (hipotética)  

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Luís Filipe Malheiro / Jornalista

A eleição de um novo líder para o PS-Madeira vai certamente ditar uma mudança significativa, quer na estratégia dos socialistas locais, quer no discurso político, quer nas prioridades, quer porventura na postura política sobretudo no parlamento que continuará a ser o epicentro do debate político regional.

Ainda em estado de choque, depois do pior resultado de sempre nas eleições regionais, os socialistas entraram numa espécie de hibernação política, dificultada pela demissão do líder ainda em funções, Vítor Freitas, e pela demora que a partidocrática impõe no processo de eleição dos novos líderes. A promessa de disponibilidade para o diálogo feita na Assembleia Legislativa, apesar de contrastar depois com o voto contra o Programa de Governo, não pode gerar nenhuma confusão.

O PS, fragilizado como está, não pode ser “engolido” pela maioria social-democrata, caso a ela se encostasse em demasia, sob pena de cavar a sua sepultura eleitoral por mais tempo. Os socialistas perderam muito com a aventura aliancista de Freitas que resolveu apostar tudo por tudo numa coligação feita a martelo, mais para o “show-off” propagandístico (como se constatou a 290 de Março passado), mas que pouco ou nada de novo trouxe aos eleitores, provavelmente porque deixou de fora partidos que podiam constituir – e constituiriam mesmo, olhando aios resultados finais – efetivas mais-valias eleitorais.

A disponibilidade para o diálogo, que não acredito passe a ser a nova linha de toque da estratégia socialista de Carlos Pereira, será pontual, porventura determinada pela natureza dos assuntos que sejam colocados em cima da mesa e da sua relevância para a Região. Quanto a isso nada a dizer.

Creio que o PS vai procurar partir, logo depois do Congresso, para a recuperação do seu espaço eleitoral à esquerda – perdeu muitos votos para a JPP cuja figura de proa, Filipe Sousa, foi dirigente e deputado socialista, deixando de o ser por divergências políticas internas que foram na altura amplamente noticiadas – porque deixou de ser, como era até 2011, o partido líder da oposição para passar a ser, em 2015, uma inimaginável quarta força partidária regional, suplantado por PSD, CDS e JPP. É demais para um partido que parece não ter percebido ainda o estado em que se encontra e a fragilidade política e eleitoral que, por culpa própria, foi cavando depois da crise com a lei de Finanças Regionais em 2007. Não há como negá-lo.

De facto, o desastre socialista começou com as regionais antecipadas de 2007, continuou em 2011 quando o PS foi superado pelo CDS como 2ª força política regional e manteve-se em 2015, quando alcançou, em coligação, o pior resultado de sempre dos socialistas em eleições regionais e foi relegado para o estatuto nada mobilizador de 4ª força política regional!

Vítor Freitas, que se queixou de boicotes internos, cometeu o erro clamoroso de se ter agarrado demasiado ao sucesso da coligação “mudança” na Câmara do Funchal (2013) e a pequenas vitórias eleitorais noutros concelhos, muitas delas graças ao apoio dado a candidatos que nem sequer eram socialistas. Ressalvando Machico (Ricardo Franco) e Porto Moniz (Emanuel Câmara), o PS limitou-se (São Vicente, Santa Cruz e Porto Santo) a ir a reboque de candidaturas que acabaram por ter um impacto negativo nos resultados socialistas nas regionais de Março deste ano.

Bem vistas as coisas, também foi isso que sucedeu no Funchal, neste caso agravado com o facto de que em escassos meses, tudo ter sido pelo “cabo abaixo” já que uma coligação inicial com PTP e PND no executivo camarário ficou reduzida ao PS e a um apoio tácito do Bloco de Esquerda e do PND – o que tem sido difícil entender – na Assembleia Municipal. A par da concordância tácita do CDS que agora tudo parece fazer para formalizar uma coligação com o PSD para as legislativas nacionais, desconfio que para mais facilmente nela se refugiar de um resultado mais penoso que poderia trazer problemas a José Manuel Rodrigues caso perdesse o mandato que hoje tem na Assembleia da República.

Não tenho dúvidas que independentemente de poder constituir a prazo mais uma tentativa falhada (tudo depende de fatores alguns dos quais o PS não controla) – ela está virada para as regionais de 2019 mas a sonhar com uma crise política qualquer na maioria social-democrata que possui apenas a vantagem de um deputado na Assembleia Legislativa – a liderança de Carlos Pereira será mais agressiva, mais contundente, mais desgastante, obrigando tanto o PSD como o CDS a reforçarem a “vigilância” aos socialistas, sobretudo ao seu discurso político. Porventura será uma candidatura citadina (urbana) mas com tempo para ir ao encontro das bases socialistas nos demais concelhos da Região. E nem sequer falo nos nomes que integrarão os futuros órgãos dirigentes regionais que acredito refletirão uma inevitável limpeza interna.