O dia em que tudo mudou
O silêncio é grande. Passou uma semana mas o fumo ainda sai do chão. À porta de uma das casas, há ainda garrafas a libertar gás e um intenso cheiro a queimado.
Na Travessa Silvestre Quintino Freitas, na Pena, as duas casas mais próximas da encosta foram aquelas marcadas pela maior tragédia dos incêndios da última semana. Naquelas casas, três mulheres perderam a vida. Morreram carbonizadas. Não saíram a tempo. Não evitaram a onda de chamas que, de repente, “engoliu” as duas residências.
Uma semana depois de terem sido encontrados os corpos das três senhoras, o AgoraMadeira visitou as duas casas e conta um pouco da história fatídica daquelas três mulheres.
Na casa mais próxima da encosta morreu uma mulher idosa e outra mulher. Mãe e filha. Segundo foi possível saber, a mulher mais velha era tetraplégica e estava acamada. A filha não conseguiu retirá-la a tempo e acabou também por ficar encurralada dentro de casa. Nenhuma se conseguiu salvar.
Na casa logo ao lado viviam sete pessoas. Uma morreu. As outras seis tinham saído de casa para fazer compras. Quando chegaram a casa já era tarde. Uma das senhoras que lá vivia acabou por perder a vida.
Um vizinho disse ao AgoraMadeira que as chamas surpreenderam toda a gente. “Lembro-me de estar uma pessoa em cima de um telhado a dizer que o fogo estava longe. Estava na parte de cima. Ele só não sabia que lá em baixo na encosta que está cheio de lixo, também havia chamas. O vento entretanto mudou de direção e o fogo apareceu de repente, surpreendendo toda a gente”, contou um homem que preferiu manter o anonimato.
“As chamas subiram, pegaram neste terreno de bananeiras e depois foi o que se viu”, complementa, olhando com desânimo para um autêntico cenário de guerra.