Desafios para 2016

Desafios para 2016

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Carina Ferro / Gestora de projetos comunitários

Finda um ano difícil, de surpresas boas e más. 2015 foi o ano em que tudo mudou. Começámos com a demissão de Jardim, em Janeiro, algo em que ninguém acreditou até acontecer. Entre eleições internas do partido do poder, eleições antecipadas e resultados eleitorais, a Madeira vivenciou episódios políticos verdadeiramente sangrentos para muitos dos partidos políticos regionais, os quais nos distraíram dos reais problemas que nos afetam, diariamente.
Entre o BPN, BES, Novo Banco, Banif, com prejuízos que nem me atrevo a somar, contrapõem-se os milhões dos contratos de clubes de futebol com estações televisivas e fica a sensação que o dinheiro existe, mas parece não estar do lado certo da dignidade humana.
Se, na Madeira, se fez história, também a nível nacional conseguimos feitos inéditos em Portugal – um acordo à esquerda que viabilizou um governo que não ganhou eleições. Pela primeira vez em Portugal, o partido com maior número de votos não conseguiu governar. É uma boa notícia. A democracia obrigou-nos a crescer perante desafios que nunca nos foram colocados.
Sabe-se, hoje, pela publicação do Anuário Estatístico, que existe um retrocesso social na Região que, dizem, é consequência direta do cumprimento do PAEF. O PAEF, na teoria, terminou em 2015. Na prática, veremos se realmente termina esta asfixia e se a renegociação do PAEF nos devolverá o fôlego que nos tiraram em 2012. Três anos em apneia é mais do que se pode pedir a qualquer cidadão.
Os desafios não se ficam por aqui. Na Europa, os desafios parecem intransponíveis:
a) Sem solução à vista para a crise dos refugiados, estamos a perder terreno para a falta de solidariedade intra-europeia que sempre fragilizou o projeto europeu. O Reino Unido, na sua ancestral posição de força, não aceita os termos propostos pela UE no que respeita à limitação da lei da imigração comunitária; se daqui sair um referendo, poderemos enfrentar um novo desafio: o de ver um dos EM com maior influência no seio da UE a optar pelo “opting out” previsto no Tratado de Lisboa.
b) A Turquia voltou a manifestar interesse em integrar a UE. Na Cimeira UE-Turquia, realizada a 29 de novembro, chegou-se a acordo: a UE envia mais dinheiro a Ancara para que estes possam conter a crise migratória de refugiados na Europa, e a Turquia consegue voltar a abrir as negociações de adesão à UE. O euroceticismo fragiliza todo este processo como nunca antes face aos recentes atentados em França, e contínuas ameaças do EI, os quais colocaram o mundo em alerta. Temo que o medo esteja a ganhar na guerra contra o terrorismo.
c) Na Grécia, França e Espanha, por diferentes motivos, sobram desafios para garantir a estabilidade governativa. Este é um ano decisivo para a UE: do referendo para validar o opting out à avalanche multinacionalista que teima em fazer-se valer nos momentos mais decisivos para o projeto europeu, demonstramos olhar mais para os projetos pessoais individuais do que para o todo e os benefícios que daí poderiam advir.

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