Fé, autoconhecimento, desafio. São várias razões que levam um peregrino a se aventurar pelos Caminhos de São Tiago de Compostela. No caso do madeirense Carlos Pereira Silva, o gosto pela caminhada e pela natureza aliou-se à paixão pela fotografia.
Os Caminhos de Santiago são os percursos que afluem a Santiago de Compostela desde o século IX para venerar as relíquias do apóstolo Santiago Maior cujo suposto sepulcro foi descoberto no século IX.
Segundo a tradição medieval, o eremita Paio alertado por luzes noturnas, que se produziam no bosque de Libredão, avisou o bispo de Iria Flavia, Teodomiro, que descobriu os restos de Santiago Maior e de dois dos seus discípulos. Atualmente há rotas por toda a Europa, mapas online e até percursos assinalados com GPS.
Entre Portugal e Espanha, o itinerário Tui – Santiago está assinalado com setas, um feito concluído na primavera de 2006 por um grupo de portugueses e espanhóis. Pelo caminho, há também uma lista de albergues peregrinos que permitem algum descanso a um preço simbólico, sendo para isso necessário mostrar a credencial de peregrino que pode ser obtida em http://www.jacobeus.web.pt/
40 km sempre a andar
Carlos Pereira Silva iniciou-se nos Caminhos de São Tiago de Compostela em Abril de 2013, em Saint-Jean Pied de Port. Optou pelo caminho francês, “o mais longo”.
“Fiz 9 percursos com uma média de 40 km. Voltei em 2014 e fiz mais 9 percursos e vou regressar em Abril deste ano. Espero chegar a Santiago de Compostela no próximo ano”, exclama.
Para ser peregrino, a condição física é essencial, conta o fotógrafo amador. A ‘aventura’ exige preparação e indumentária apropriada. A escolha das botas que devem ser ‘amaciadas’ antes da partida é essencial para evitar problemas nos pés. E existem páginas onde publicam listas dos objetos que são obrigatórios levar para uma viagem destas.
“O ano passado tive de ser assistido. Fiz um grande golpe na planta do pé e foi graças a uns pensos especiais e ao cuidado do uma enfermeira que terminei a caminhada”, alerta Carlos Pereira da Silva.
Planear bem a altura do ano para se fazer o trajeto acaba também por ser importante, lembra o peregrino. “Eu escolhi Abril para fugir ao calor. É preciso ver que são 40 km a andar”.
O madeirense parte em Abril e a na companhia de um amigo, com quem partilha o gosto pelo contacto com a natureza e a vontade de conhecer pessoas de todo o Mundo.
“Regresso nos primeiros dias de Maio a Lisboa e, no dia 8, encontro-me com um grupo de peregrinos de Tires com o qual faço, há anos, o percurso da Expo a Fátima a pé”, adianta.
Embora uma parte considerável dos peregrinos escolha o mês de Julho para percorrer o seu caminho de São Tiago – até porque a Igreja católica assinala anualmente o ‘Martírio do Apóstolo São Tiago Maior’ a 25 de Julho -, há caminhantes ao longo de todo ano.
No Porto, por exemplo, a Casa Diocesana – Seminário de Vilar disponibiliza, desde o final do mês do Janeiro, um albergue para os peregrinos de Santiago de Compostela com 12 camas e cuja contribuição é livre e voluntária.