Ainda Janeiro vai a meio e já cinco pessoas perderam a vida, à espera de cuidados médicos, nas urgências de vários hospitais deste País. Confesso ter duvidado desta contagem mental, confirmada após uma breve pesquisa.
Nunca antes de ser mãe tinha ouvido tantas vezes a frase: “se puderes, foge das urgências”. Infelizmente, a realidade económica deste País não permite à maioria dos cidadãos escapar a estes corredores de angústia, e de longa espera, saturados pelo encerramento das urgências em inúmeros centros de saúde.
Enquanto o bastonário dos médicos atira com as culpas para o Governo, a quem acusa de ter na consciência as mortes recentes, o Executivo quer agora resolver parte do problema das longas filas de espera com a atribuição, a partir de Junho, de competências na triagem aos enfermeiros que passam a pedir exames complementares de diagnóstico e a dar analgésicos para controlar a dor.
Os enfermeiros aplaudem a medida, já os médicos consideram que esta visa enganar os doentes, dando-lhes a ideia de que estão a ser atendidos. Estes profissionais vão mais longe e defendem mesmo que pode ser perigoso. No reverso da medalha, o Bastonário levanta também o problema da falta de médicos nas empresas contratadas pelo Governo para servir os hospitais portugueses.
Enquanto dura esta discussão, quem é obrigado a recorrer às urgências quase se sente como que lançado às feras, à mercê de uma cor, rezando por uma pitada de sorte, subjugado a um destino… chamem-lhe como quiserem!
“Uma pessoa que para o hospital, e acaba por falecer, está cinco horas à espera num corredor… não é um animal que ali está. Chama-se um médico, chama-se um enfermeiro, chama-se uma médica, e ninguém nos liga nenhuma. Como se pode deixar uma pessoa cinco horas num corredor?”. O relato, divulgado pelo Jornal Público, reflete este País que temos, onde em menos de um mês cinco pessoas morrem à espera de serem tratadas. Este é um País doente! Um país que todos os dias nos diz: “se puderem, fujam das urgências”.