O sentimento é de grande revolta entre a comunidade portuguesa residente em França. Solidários com as famílias das pessoas que perderam a vida, ontem, na redação do jornal satírico Charlie Hebdo, alguns emigrantes acreditam que a viragem à extrema direita poderá ser a solução para um país “vergado aos muçulmanos”.
“Os jornais já admitem que os muçulmanos têm de ser expulsos deste ‘paraíso’ que sempre os ajudou… acredito que a solução é entrar a extrema direita para recuperar a França. Não será bom para os emigrantes mas, quanto a mim, prefiro regressar a Portugal a ver o País neste estado”, afirma David Pestana.
O jovem português residente em Rodez descreve uma França que protege em demasia os muçulmanos. “Se um muçulmano ofender um francês não lhe acontece nada, se for ao contrário é logo acusado de xenofobia. Vivemos num país que chegou ao extremo de proibir o consumo de carne de porco nas cantinas das escolas. Onde está a liberdade de escolha?”, critica.
Admitindo que nem todos os muçulmanos são fundamentalistas, David Pestana acredita que a comunidade corre agora o risco de ser afetada pela revolta dos franceses. O operário de construção civil não põe de lado a hipótese de haver mais confrontos.
“Os franceses estão muito revoltados. As televisões mostram Paris e não falam das terras pequenas onde a mentalidade é outra, onde o catolicismo ainda tem forte implementação e onde as pessoas estão muito descontentes”, refere.
Emigrantes sentem-se ameaçados
A 20 minutos de Paris, em Drancy, Ariete Gaspar não acredita na possibilidade de haver confrontos entre cidadãos franceses e muçulmanos. “Pelo que tenho visto, há muita indignação, mas as pessoas estão calmas e recolhidas no seu sofrimento”.
A madeirense acredita que a extrema direita vai avançar na França. “Nestes últimos anos, tem entrado muita emigração dos países de leste e a maior parte não trabalha… A França ainda é dos poucos países que ajuda financeiramente esses emigrantes, mas os franceses sentem-se lesados, sobretudo agora com a crise e o aumento dos impostos”, explica.
Ariete Gaspar não nega sentir alguma insegurança nos últimos anos. “As pessoas até têm medo de se expressar porque muitos árabes usam a sua impunidade para ameaçar… se alguém reclama, fazem logo um sinal a simular que nos vão cortar o pescoço”, diz.
Carlos Mendes, outro emigrante português, partilha a opinião da conterrânea e acredita que a extrema direita só vai ser prejudicial para os emigrantes que não queiram trabalhar e se integrar na comunidade francesa.
Solidariedade internacional
Nas redes sociais, as manifestações de solidariedade chegam de todo o Mundo. A partir da Alemanha, Teresa Romão, uma madeirense de 48 anos, confessou, ao AgoraMadeira, estar preocupada com as consequências deste atentado. “Hoje foi na França, amanhã poderá ser em qualquer Pais da Europa… apetece-me gritar pela liberdade de expressão e por um mundo sem fanatismos “.
Apesar da revolta, há também quem apele à calma. Marco Silva, emigrante em Londres, lembra que “não se pode correr o risco de meter ‘todos no mesmo saco’, ao considerar todos os muçulmanos como terroristas e prejudicar, assim, pessoas inocentes”.
Segundo a imprensa francesa, mais de 100 mil pessoas manifestaram-se ontem por toda a França. As homenagens às 12 vítimas do atentado contra o semanário francês Charlie Hebdo estenderam-se a varios países. Em Londres, Nova Iorque, Canadá e no Brasil as manifestações sucederam-se sob o lema “Eu sou Charlie”.