Pedro Pratas sofre de surdez parcial mas o problema agrava-se, e muito, durante a prática de exercício físico que, em certas alturas, impede-o praticamente de conseguir ouvir. Um motivo que não foi o suficiente para demover este atleta de arriscar a participação na prova maior do MIUT 2015.
É um verdadeiro exemplo de persistência, de força de vontade e de crença. Chama-se Pedro Pratas e foi um dos heróis da 7ª edição do Madeira Island Ultra Trail.
“No ano passado desisti aos 30 quilómetros com problemas num ouvido. Felizmente, este ano consegui terminar”, exalta o atleta ao AgoraMadeira. E logo na exigente prova maior do MIUT, a de 115 km. “Foi uma experiência única numa prova muito dura. Nunca tinha feito uma prova tão longa e com tantas horas.”, confessa.
Depois de ter saído do Porto Moniz às 0.00 horas de sexta-feira, Pedro Pratas chegou a Machico perto das 02.30 da madrugada do dia seguinte, o que correspondeu a mais de 26 horas a atravessar a ilha praticamente sem parar. “O meu objetivo era só terminar e consegui”, sublinha, radiante com o feito.
Pedro Pratas veio para a Madeira integrado na equipa Paredes Aventura que inicialmente era composta por 19 elementos, mas que foi reduzida à última hora, visto que um dos participantes foi pai antes do previsto.
“Todos eles terminaram. E penso que fomos uma das equipas maiores do MIUT”, conta, orgulhoso, manifestando o desejo de que em 2016 possa haver um pódio só para atletas que tenham algum tipo de deficiência.
“Espero que para o ano venha mais dois ou três (alguns com problemas de surdez, outro da parte motora e com problemas intelectuais) e se assim for, a organização vai propor fazer um pódio específico para nós. Tenho essa garantia da parte do diretor de prova”, lembra.
“QUANDO ESTOU A CORRER DEIXO DE OUVIR AINDA MAIS”
Quanto ao problema de surdez que tem, Pedro Pratas esclarece: “Eu tenho uma vida normal. Tenho um problema num ouvido mas em prova as coisas são diferentes. Quando estou a correr, e como tenho dificuldade em ouvir, deixo de ouvir ainda mais. Há colegas que passam por mim e falam mas eu não oiço. Quanto mais mexo o corpo mais dificulta na minha audição”, explica, dando conta do momento mais difícil das 26 horas.
“A motivação é menor e a preocupação é muito maior, principalmente à noite. Como é muito escuro, os olhos cansam mais. Muito mais. Fui sempre acompanhado por um colega meu do princípio ao fim da prova. Foi uma grande ajuda! Se não fosse ele nunca ia conseguir completar o percurso”, reconhece.
Pedro Pratas pratica trail há três anos. Todos os meses faz provas. “Para 2016 gostava muito de voltar e trazer mais pessoas comigo. Provavelmente iremos participar numa prova mais pequena, a de 40!”
Sobre a organização do MIUT ficaram muitos elogios mas ficou uma ressalva. “A organização foi excelente mas tenho de fazer um reparo aos primeiros abastecimentos. Eu fui um dos últimos e já não havia sopas e outras coisas. De resto, a organização foi sempre muito simpática. Toda a gente esteve disponível e pronta a ajudar”, elogia, em jeito de conclusão.