“Hei de fazer”.
“Hei de trazer”.
“Hei de ver”.
A conjugação haver + de + infinitivo representa uma ação futura confirmada. Ou, melhor, representaria porque aqui, em Moçambique, faz adivinhar um futuro, no mínimo, incerto.
– “Boa tarde, um café, por favor”
– “Hei de trazer”
Ao contrário daquilo que nos diz a gramática, a resposta encerra uma série de imponderáveis que podem levar, ou não, à boa conclusão da tarefa aberta pelo pedido, ou seja, beber um café.
É assim em quase todas as situações. Profissionais, quando o “hei de fazer” tanto pode significar sim, como pode querer dizer não, como pode converter-se em “vou tentar esquecer-me disso ao virar da próxima esquina”. Pessoais, quando o “hei de chegar” é igual a uma seca de hora e meia (ou mais).
O “hei de” é o nosso “talvez”. Pode ser sim. Pode ser não. Mas não é um compromisso. É antes uma forma de “não garantir” o que quer que seja.
É a resposta mais comum a um pedido, qualquer que seja ele. Porque os moçambicanos elevaram o temor luso ao compromisso a níveis de sofisticação impressionantes.
Mas o melhor de tudo é que a gente habitua-se. Talvez porque comecemos a olhar para o “hei de” como uma expressão que reflete o outro, mas que de alguma forma nos reflete também a nós. Pelo menos, refletirá o que secretamente, queremos que seja de nós.
Na verdade, as coisas acabam por ser feitas. A um ritmo diferente, que se coaduna mais com os habituais 30 graus, com a paisagem bonita, com o mar imenso, com os cheiros e com as cores e com os sons que nos distraem.
E às vezes, a gente dá por nós a dizer que um dia, também há de ser assim. Que o futuro há de ser mais calmo, mais descomprometido. Que havemos de ter o verbo haver à frente da ação.
Um dia, também hei de responder ”hei de fazer” e seguir vida fora, com ar gingão, rumo àquilo que a vida estiver disposta a me dar.