Pensará o leitor destas linhas que um título interrogativo pressupõe, no final, uma resposta. Não é caso: é que estou mesmo sem perceber por que razão se escondem as grandes empresas. Embora, hoje em dia, comece a colocar em causa muito do que aprendi, seja científica, e até socialmente, não deixo de continuar marcado pelos princípios de uma comunicação fácil entre a empresa e o cliente, pelo velho princípio de que “o cliente tem sempre razão” e que é este o suporte das empresas.
O que mudou substancialmente é que as grandes empresas perderam o endereço, a cara e até a voz.
Ao tentar enviar uma carta (outra forma de comunicação a cair em desuso…) às maiores empresas de um determinado sector, verifiquei que nenhuma disponibiliza nos seus sítios um endereço postal. Encontrar um número de telefone adequado é um achado, um endereço de mail apropriado a quem não quer comprar nada, um mistério, e então o nome de alguém, uma ‘pessoa’, isso é uma verdadeira impossibilidade.
Na melhor das hipóteses, lá se descobre um número começado por sete, com sabor a chamada de valor acrescentado (e é mesmo!), e lá vem a cantilena “se quer falar em português, marque 1, se quer falar em inglês, marque 2”, se quer uma resposta automática, marque 3”, e tal, e tal, e lá para o fim dos dígitos, “se quer falar com um operador, marque 9”. Aqui chegados é grande a probabilidade de ouvir: “De momento não é possível atender a sua chamada, em breve será atendido por um operador, aguarde por favor” e somos brindados com um interminável Bolero de Ravel, subitamente interrompido por “pi…, pi…, pi…”, e lá começa tudo de novo, aumentando consideravelmente a nossa vontade de citar Gil Vicente…
A juntar a tudo isto, a cereja é o ‘mail no reply’, outra modernice exasperante. Estão a ver o que se sente ao receber um mail a fazer-nos perguntas, a pedir informações e que, no final, termina com um incrível: “PS: Por favor não responda a este mail”? Então, em que ficamos?
Que saudades do tempo em que marcávamos um número de telefone e, do outro lado da linha, havia uma pessoa, que tinha nome e voz de gente, e nos resolvia o problema…