Um dos problemas com o futuro é a velocidade com que ele se transforma em presente… e em passado! Alguém disse que nada envelhece tão depressa como a visão que tínhamos do futuro. As transformações são rápidas, determinantes e, em curto espaço de tempo, deturpam totalmente a visão que hoje temos do futuro. Na geração dos nossos pais, passado e futuro mediam-se por gerações. Por duas gerações! Falavam-nos dos “bons-velhos-tempos” como algo longínquo e do “nosso-tempo”, como algo duradouro e bem definido. Cada geração passava à geração seguinte um legado de hábitos, cultura e tecnologia, que estes se encarregariam de fazer evoluir e passar aos seus vindouros.
Hoje, as nossas decisões “de fundo” vão influenciar a forma como viveremos dentro de 3 a 5 anos, no máximo! A herança intergerações foi substituída por uma mera mensagem de curto prazo. Certa ou errada, logo se vê! Como disse F. Lopes dos Santos, neste aspecto somos “filhos de nós próprios” na medida em que apesar de trabalharmos para o futuro, o futuro é já amanhã!
Mas o futuro tem que significar mudança. Esse futuro converte-se rapidamente em passado, quando nos limitamos a deixar que aconteça, e que a mudança surja naturalmente e sem a nossa intervenção ou quando, na melhor das hipóteses, apenas nos atrevemos a prever o que vai acontecer e preparamo-nos para tal. Assim, o mais certo é que o vamos encarar com medidas desajustadas, com soluções de ontem, atuando sobre o acontecimento e a reboque dos factos. Não participamos da mudança – adaptamo-nos!
A mudança tem de ser provocada, tem de ser encaminhada no sentido em que os governos, as organizações e as empresas pretendem, e que lhes parece mais favorável ao futuro que querem construir. Naturalmente que o conjunto de factores que caracterizam e influenciam a mudança é tão vasto, tão global, tão planetário, que podemos ser levados a pensar que a pequenez da intervenção de cada um pouco vai adiantar ou modificar no curso dos acontecimentos. Não deixa, todavia, de ser pertinente que, à escala de cada um ou de cada organização, seja ela pública ou privada, sejamos capazes de provocar o futuro que queremos, ainda que tenhamos que ter sempre presente que não há mudança sem dor, sem perda de privilégios para alguns, sem “revolução”!
Por isso, na nossa opinião, é missão de cada um, independentemente da função que desempenha, e do sistema social em que se insere, contribuir para provocar um futuro que consubstancie os desejos da população em geral, a vontade dos utentes dos serviços que cada qual presta e o desenvolvimento das suas próprias organizações.
Adaptado da crónica “Vale a pena provocar o futuro”, publicada no DN de 04/11/1999, in Cartas de Divagação (2002).