Em declarações à Agência Lusa, o matemático e investigador Carlos Antunes considerou hoje que a variante Ómicron está a progredir no país de forma diferenciada.
“Há regiões que já se destacam em que podemos dizer que está a haver uma transmissão comunitária da Ómicron, nomeadamente na região de Lisboa e Vale do Tejo e na Região Autónoma da Madeira”, adiantou.
Por outro lado, apontou, que há uma diferenciação em termos etários, sendo os grupos etários dos 20 aos 29 anos, dos 30 aos 39 e depois dos 10 aos 19 que estão a ser “os motores da transmissão da Ómicron”.
“São nesses grupos que estamos a observar, no caso particular de Lisboa e Vale do Tejo, o aumento muito mais significativo característico da Ómicron e não característico da situação atual da Delta”, salientou.
O responsável diz, por isso, que é “prudente e aconselhável” antecipar as medidas de contenção para evitar chegar aos 6.000/7.000 casos diários de covid-19, o que levaria a atingir as 250 camas em cuidados intensivos.
“Esta suposta antecipação das medidas é prudente e aconselhável dado que o que nós observamos nos outros países é que, a partir do momento em que a Ómicron começa a circular na comunidade, começamos a observar o aumento muito mais exponencial de casos”, disse à agência Lusa o investigador, no dia em que o Governo convocou um Conselho de Ministros extraordinários para adoção de medidas de combate à pandemia.
Segundo o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Portugal é dos poucos países que ainda está aquém dos números de janeiro, quando ocorreu o pico da terceira vaga da pandemia e foi registado o maior número de contágios e de óbitos.
“Quase todos os países europeus já atingiram ou ultrapassaram esses números e, portanto, é expectável que nós também vamos assistir a essa meta”, afirmou.
Carlos Antunes advertiu que Portugal não pode passar “dos 6.000, 7.000 mil casos” porque, disse, “é esse número que nos vai atirar para 250 camas (nos cuidados intensivos), mas vai ser difícil”.
No seu entender, se for antecipada a semana de contenção prevista para janeiro, poderá evitar-se situações de “amplificação de contágios que ocorreriam em épocas festivas de fim de ano”.
Disse ainda que se as medidas de contenção se aplicarem a bares e discotecas “reduz-se logo aí a capacidade de proliferação da variante”.
“Não vai impedir o aumento, mas vai conter a velocidade e o ritmo com que o número de casos pode aumentar, salientou.
Para Carlos Antunes, “é expectável” que esta semana, talvez na quarta e quinta-feira se observe “um número já significativo” de casos consequência da Ómicron.
“Mas como vamos ter uma pausa no fim de semana do Natal, de reduzida atividade de rastreio epidemiológico e também de testagem, um bocadinho aquém daquilo que é necessário, é natural que a gente não consiga detetar um conjunto de casos, que depois vão se refletir na semana seguinte”, declarou.
Nesse sentido, disse ser expectável que já na semana a seguir ao Natal se comece a observar de “uma forma mais generalizada, nas várias regiões e nas várias faixas etárias, o aumento mais significativo de casos”, uma situação que, disse, “em termos de internamento, só se vai repercutir mais tarde, embora ainda não é taxativo que esta variante seja de facto menos patogénica do que a variante anterior”.
“Os dados ainda são insuficientes para tirar essa conclusão e, portanto, temos que atuar de forma preventiva para evitar que se atinja números muito elevados e, por isso, vem no bom sentido a decisão de antecipar as medidas de contenção que estavam previstas para janeiro”, reiterou.