A escada (rolante)…
Filipe Rebelo / Presidente da delegação regional da Associação Portuguesa de Deficientes
“Lembra-te de respeitar aqueles que encontrares quando fores a subir, pois serão os mesmos que encontrarás quando vieres a descer” (Frase do Testamento, proferida recentemente pelo Papa Francisco). Uma frase que se reflete na sociedade atual na perfeição, quer seja a nível pessoal ou profissional.
Deparamo-nos diariamente com situações que nos levam a questionar o modo como interagimos com as pessoas, os preconceitos, a falta de sensibilidade e a falta de respeito para com o próximo. Assisti recentemente a um acontecimento que me levou a pensar neste assunto.
No fim de semana, estava eu num café bem conhecido no Funchal a lanchar, quando entrou uma senhora de alguma idade, que me pediu uma moeda. Respondi que uma moeda não lhe dava, mas que teria todo o gosto em lhe oferecer um café, ao qual a senhora aceitou de bom grado. Sentou-se numa mesa e pedi-lhe o café.
Qual o meu desagrado, quando vejo o proprietário a expulsá-la do estabelecimento, com a justificação de que a senhora não podia ali estar pois “cheira mal”. Tive de intervir e questionar ao proprietário se ela não será uma cliente como todos os outros? Contudo, ele respondeu que ela já tem “historial” ali e que “cheira mal” e incomoda os clientes.
Respondi-lhe que hoje é a senhora que está naquela situação, amanhã poderá ser ele ou até eu. Devemos respeitar o próximo, apesar de todas as suas limitações ou situação de vida. Ninguém é melhor que ninguém!
O mesmo se aplica no campo profissional. Na sociedade atual, exigente ao nível do emprego, as pessoas atropelam-se por um cargo. Fazem o que for preciso para lá chegar, incluindo promessas, manipulações, traições, tudo por um lugar ao sol. Contudo, esquecem-se que até a própria sombra desaparece no escuro.
As competências, a lealdade, e o respeito são colocadas de lado. Porém, um dia, se descerem, vão encontrar as mesmas pessoas que encontraram quando subiram na vida/estatuto. E caberá a essas mesmas pessoas a decisão de olhar-lhe na cara ou de se manter firmes nas suas convicções, continuando a sua vida até então, respeitando-se a si próprio.